As Competências Nucleares da ICF: Comunicação Direta (1/2)

Paulo MartinsCoach PCC ICF, Formador, Consultor

As Competências Nucleares da ICF: Comunicação Direta

 

Ainda sobre o tema das competências nucleares de coaching, da International Coaching Federation, retomemos a nossa partilha com a competência 7 “Comunicação Direta”, a última do grupo “C - Comunicar Eficazmente”.

 

 

Definição da Competência  “Comunicação Direta” pela ICF

A ICF define esta competência como “capacidade de comunicar eficazmente durante as sessões de coaching, bem como de utilizar a linguagem que tiver o maior impacto positivo no cliente”. Isto é:

  1. Ser claro, articulado e direto ao compartilhar e fornecer feedback,
  2. Reformular e articular para ajudar o cliente a compreender, a partir de outras perspectivas, o que quer ou sobre o que está incerto,
  3. Definir claramente os objetivos, a programação das sessões e o propósito das técnicas ou exercícios de coaching,
  4. Utilizar uma linguagem apropriada e respeitosa para com o cliente (ex, não-machista, não-racista, não-técnica, sem jargões),
  5. Usar metáforas ou analogias para ajudar a ilustrar uma ideia ou para criar imagens verbais.

 

Os 6 novos marcadores da ICF

Acrescento, antes de partilhar o que “me corre” em pensamento, os 6 novos marcadores da ICF que, nesta competência, evidenciam efetividade em coaching, para o nível PCC (Professional Certified Coach):

  • Marcador 1 - O coach partilha as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos para servir a aprendizagem do cliente e o seu avanço.
  • Marcador 2 - O coach partilha as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos sem qualquer apego acerca de estarem ou não certos.
  • Marcador 3 - O coach incorpora ou usa a linguagem do cliente que reflete a forma do cliente falar.
  • Marcador 4 - O coach usa uma linguagem direta, clara e concisa.
  • Marcador 5 - O coach permite que o cliente fale na maioria do tempo.
  • Marcador 6 - O coach permite que o cliente fale sem interrupções, a não ser que tal tenha sido declarado.

 

Passo agora em nota rápida, sobre o cuidado, aqui implicitamente sugerido, que um “Coach ICF” deve ter para garantir um ambiente de comunicação efetivo, solto e que permita a total expressão do cliente. Esse cuidado deve ser evidenciado, quer ao nível da dinâmica da comunicação e da relação que é estabelecida entre ambos, quer ao nível da incorporação do estilo de comunicação do cliente no seu próprio estilo ou forma de comunicar. Por outras palavras, esta competência encoraja o coach a, tornar seu, o estilo de comunicação do cliente.

E centro as minhas considerações sobre esta competência, num dos seus aspetos mais curiosos e que parece “assustar” muitos coaches: aquele que contempla, em coaching, a partilha das observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos do coach, com o coachee.

 

Distinções entre o coaching e o mentoring

Uma das mais importantes distinções entre o coaching e o mentoring é precisamente a passagem de conhecimento e experiência do coach/mentor para o coachee/mentee e que, supostamente, no caso do coaching, parece que deverá ser inexistente ou residual. Philippe Rosinsky, MCC, no seu livro “Coaching Across Cultures” refere que “… os coaches, ouvem, fazem perguntas e criam as condições necessárias para que os coachees descubram por si próprios o que é melhor para eles. Os mentores falam acerca da sua própria experiência, assumindo que ela é relevante para os mentees.”

Na forma como entendo as competências ICF, não deverá existir, em coaching, passagem de conhecimento ou experiência do coach para o coachee, o que não quer dizer que o coach não deva partilhar, com o seu coachee, as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos. Muito pelo contrário, gosto de declarar que, estando o coach estabelecido em escuta ativa, tudo o que “lhe chegar”, em pensamento, não dele, é do coachee. Se o coach tiver a percepção de que a informação que lhe corre em pensamento poderá ser útil para o seu cliente, em coaching profissional, está comprometido em “devolvê-la”. A César o que é de César!

O que possibilita esta partilha em coaching e distingue estes dois posicionamentos (coach vs mentor) é o conceito de ”apego”.

 

Num próximo texto darei continuidade a este tema. Entretanto, surge-lhe algum comentário ou questão sobre a interpretação desta competência?

Escrito por

Paulo Martins

Licenciou-se em Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho e especializou-se nas áreas de Executive Coaching, Formação em Liderança e Desenvolvimento de Equipas de Trabalho, predominantemente em ambientes corporate, internacionais e multiculturais.Com 50 anos e mais de 20 de carreira, adquiriu experiência de intervenção numa grande diversidade de setores de atividade sobretudo, através de projetos globais, transversais e de longo-prazo. Tendo como missão servir a expressão da grandiosidade dos outros, é muito orientado para a ação e para resultados e gosta de dar a prioridade aos aspectos práticos da vida.Professional Certified Coach (PCC) pela International Coach Federation (ICF), detém diversas certificações internacionais como Mentor Coach, SUN Associate Coach Trainer, Life Purpose, Coaching Intercultural (COF), Experiential Learning Metodologies, Drive Trainer e Situational Leadership Trainer e conta, neste momento, com mais de 10.000 horas de intervenção, realizadas nas suas áreas de especialização.Procurando a prática de uma visão global e unificadora do Ser, as suas orientações metodológicas assentam nas linhas do Coaching Ontológico e nas competências centrais da ICF. Integra equipas de trainers, supervisores e mentores de programas de formação de coaches profissionais, reconhecidos pela ICF com as distinções ACTP , ACSTH e CCE.
Saiba mais