O coach emocionalmente inteligente

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

A noção de que os fatores sociais e emocionais jogam um papel decisivo nos eventuais sucessos que cada pessoa alcança na sua vida pessoal, profissional e social, é uma ideia antiga e amplamente expandida e debatida em diferentes domínios, desde as tertúlias mais ou menos informais até aos corredores e gabinetes de investigação das academias.

Mais especificamente, a hipótese de que existe toda uma panóplia de competências importantes para a chamada “eficácia pessoal” em âmbito profissional, para além daquilo que classicamente se tem designado por “inteligência”, é particularmente atrativa e esteve mesmo na base do desenvolvimento dos modelos de competências, segundo os quais aquilo que marca a performance profissional não é tanto as capacidades e as aptidões de cada pessoa, mas os “modos de uso” que cada um faz das capacidades ou aptidões que possui.

Neste contexto, Goleman, na linha de outros investigadores como Salovey, Mayer e Caruso, tem vindo a ser citado com um dos responsáveis pela popularização do conceito de “Inteligência Emocional”, que, através dos vários modelos desenvolvidos até agora, pode ser considerada como uma realidade que se observa quando uma pessoa ”evidencia as competências de autoconsciência (self-awareness), autogestão (self-management), consciência social (social awareness) e aptidões sociais (social skills) nas alturas e através de modos apropriados e com uma frequência suficiente para gerar uma performance eficaz em diferentes situações” (Peltier, 2010).

Embora nem todos os autores partilhem do mesmo entusiasmo relativamente à verdadeira eficácia dos processos utilizados para o desenvolvimento das diferentes competências de Inteligência Emocional, sustenta-se, no presente artigo, que as competências emocionais, e os princípios para a sua aplicação, constituem um referencial importante para as práticas de coaching, não só para a preparação do próprio coach, como para a estruturação de modelos conversacionais que permitam, ao coachee, melhor explorar os cenários alternativos que venham a constituir os alicerces dos seus processos de mudança pessoal.

Apresentam-se, a seguir, alguns dos domínios em que a utilização dos constructos da IE, e dos seus aspetos operacionais, pode, de facto, contribuir para uma maior eficácia na relação coach/coachee e, consequentemente, aumentar a possibilidade de gerar um maior valor acrescentado nos processos de coaching:

Reconhecimento dos estados emocionais internos

Para o pleno sucesso do processo de coaching, é inquestionável que tanto o coach como o cliente deverão consciencializar os estados emocionais que estão a viver, no próprio momento em que os estão a sentir e não na modalidade da “consciência diferida” do tipo de só mais tarde conseguirem dizer que “só agora é que percebo o que realmente se passou”. A “autoconsciência”, como primeira das competências da IE, é particularmente necessária para que os coaches possam ser capazes de lidar com uma paleta diversificada de emoções dos clientes, sem caírem nos ardis das tendências projetivas e contra transferenciais que podem levar a derivas perigosas nas estratégias de coahing.

Utilização da informação emocional

Os sentimentos constituem uma fonte de informação essencial sobre o “sentido do mundo” de quem os está a viver: Eles podem ajudar-nos a compreender os nossos valores mais profundos e o nosso sentido interior do que está certo e do que está errado; podem acionar os nossos sistemas de alerta, antes que a “consciência” se manifeste; podem conduzir-nos a focalizar a nossa atenção em determinadas coisas que, sem eles, poderiam parecer-nos irrelevantes.

Para o coach, é particularmente importante o domínio da linguagem das emoções, suas e dos seus clientes, de modo a que possa permanecer num simultâneo de “dentro” e de “fora” na relação com o coachee. Tal como a expressão verbal, a linguagem das emoções é uma parte essencial da fenomenologia do cliente e, como tal, é um recurso essencial para as reconcepções de sentido que constituem o objetivo mais nobre dos processos de coaching.

Modelagem apropriada de comportamento emocional

A expressão inteligente das emoções constitui um dos verdadeiros pontos de focalização das intervenções que têm como finalidade o desenvolvimento de competências em IE. Na relação de coaching, muitas vezes acontece que os clientes ou manifestam uma emocionalidade excessiva ou, pelo contrário, apresentam défices nas suas formas de expressão emocional. Nestes contextos, os coaches podem ajudar os seus clientes, seja através da emissão de feedback, seja por via da modelagem de formas adequadas de expressão emocional. Esta modelagem deve, no entanto, ser feita com extremo cuidado, para que não possa ser entendida como um qualquer tipo de “invasão” do espaço identitário do cliente.

Em síntese, com esta breve análise sobre alguns dos tópicos da agenda do “coaching com Inteligência Emocional”, pretendemos sugerir que a utilização dos constructos e das técnicas deste(s) modelo(s) podem tornar os processos de coaching mais “desafiantes”, citando uma expressão utilizada por Bob Wall (2007).

Sustentamos, assim, que a IE fornece um conjunto de oportunidades, e o respetivo formato, para o desenvolvimento das relações de cada pessoa consigo própria e com os outros. Nos processos de coaching, a IE pode, assim, constituir uma ferramenta de assessment aos clientes para os ajudar a promover melhorias nas suas relações pessoais e profissionais e a usar os respetivos conceitos para criar planos de progresso.

Finalmente, a melhor compreensão do peso da linguagem das emoções na construção do sentido pessoal do mundo de cada pessoa permite uma melhor integração da sua identidade pessoal, facilitando a apropriação daquilo que poderá constituir, porventura, a maior manifestação de sucesso de um processo de coaching: que cada coachee assuma que está nas suas mãos a construção do seu próprio destino.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NEALE, S., SPENCER-ARNELL, L. & WILSON, L. (2009). Emotional Intelligence Coaching: Improving performance for leaders, coaches and the individual. London: Kogan Page.

PELTIER, B. (2010). The Psychology of Executive Coaching (2nd. Ed.). New York: Routledge.

WALL. B. (2007). Coaching for Emotional Intelligence. New York: AMACOM


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Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

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